FAKE OU NÃO FAKE, EIS A QUESTÃO

O debate sobre a fidelidade alcançada entre a realidade e a representação não é exclusivamente novo: remonta ao início da reflexão sobre o pensamento humano e sua forma de adquirir conhecimentos. Mas hoje acontece algo diferente, e tem a ver com o acesso sem precedentes a múltiplos níveis de informação mediante plataformas e telas onipresentes. 

É quase um paradoxo: nunca tivemos tantos recursos para nos conectarmos com o mundo, mas nos custa cada vez mais diferenciar a realidade da ficção. A verdade da mentira. E este fenômeno comunicacional tem nome e sobrenome: Fake News.

Ou fake content, ou apenas fake. E este fenômeno é coisa séria: de acordo com o Trust Barometer 2018, publicado pela Association of Communication Directors (Dircom), mais de 70% das principais cidades do mundo estão preocupadas com o efeito que a informação falsa pode ter sobre a opinião pública.

Além da retórica. Tradicionalmente, a retórica, ou a arte da persuasão, foi utilizada a fim de ganhar o apoio do público, mas sempre embasada numa verdade que havia de transmitir. A comunicação era potencializada pela persuasão. Mas este novo século viu surgir e crescer uma nova era na comunicação: a pós-verdade. A pós-verdade, como indica o nome, não busca uma pedagogia, a não ser um fim utilitário, um efeito concreto e final. Apela às emoções para alcançar uma manipulação negativa, mesmo às custas da verdade; seja perseguindo fins políticos, corporativos ou de engenharia social.

No império do efêmero.

A pós-verdade e suas manifestações concretas (fake news) servem apenas para enfraquecer o sistema de informação global, numa multiplicação mega-exponencial do que já havia demonstrado Orson Welles com sua representação via rádio da “Guerra dos Mundos”, em 1938: o poder da mentira crível. Neste sentido, os meios de comunicação, a instituição jornalística, e mesmo as novas plataformas de conteúdo, são os grandes perdedores neste novo mundo virtual e efêmero. Segundo o relatório da Dircom, “já não estamos dispostos a crer na informação que nos é apresentada, mesmo quando vem de alguém próximo a nós.”

Ferramentas e desafios.

Agências, anunciantes e corporações são afetados pela visão de um sistema de mídia duvidoso. Neste sentido, ganha enorme importância o marco regulatório legal e ético, que cria um contexto de melhores práticas e ética profissional em cada elo do processo de comunicação. Uma verdadeira cadeia de comunicação é necessária, isto é, um rastreamento apurado que pode gerar um ambiente de confiança e de qualidade da informação e de seus processos de divulgação, desde o registro do acontecimento até sua representação escrita ou audiovisual apresentada ao público.

Nossa contribuição profissional.

Para todos os atores afetados, o desenvolvimento de uma reputação positiva através do tempo será fundamental. As referências especializadas de cada indústria (incluindo as mais acadêmicas) se tornam outra vez importantes; são elas que podem apresentar uma versão “objetiva” do que está acontecendo. E, claro, o desenvolvimento cotidiano de uma ética de trabalho séria e profissional é imperativo. A construção de uma ética corporativo-empresarial nos faz retornar às clássicas “missão e visão” empresariais. A definição de um propósito fundamental de nossa organização.

Porque no final, essa é a melhor manifestação do storytelling: contar ao mundo qual é nossa razão de ser, por que existimos e para onde vamos. Talvez seja a forma mais eficiente de derrubar as barreiras do preconceito, da mentira e da suspeita. E com isso nós, agências, empresas e profissionais da comunicação, ainda teremos muito a dizer e uma responsabilidade a cumprir.