TOLA, TOLINHA

Tonta. Caixa estúpida. Dispositivo imbecil. Uma janela aberta num mundo fechado.

Assim, o público em massa batizava a televisão quando, na metade do século 20, era uma tecnologia amplamente difundida na maioria dos países ocidentais. Vários séculos antes, em 300 anos AC, os primeiros escritos eram registrados na Grécia, e os filósofos clássicos criticavam a tecnologia do livro porque “coisificava e depreciava a pureza do pensamento”. Sem dúvida, era uma técnica nova e despertava suspeitas.

E algo semelhante aconteceu com o cinema quando, por volta do ano de 1895, os irmãos Louis e Auguste Lumière apresentaram a primeira projeção pública de imagens em movimento. Algo que claramente beirava uma indecência moral naquela época.

Com todos esses antecedentes, é normal que a internet, que a cada 17 de maio celebra seu dia, também tenha despertado paixões conflituosas, bem como vozes críticas. Em 1999, o teórico francês da comunicação, Dominique Walton, ousava publicar: “A internet, e depois?”, texto com título retórico em que antecipava um certo ceticismo sobre a rede digital como um agente positivo.

A verdade é que, 20 anos depois dessa pergunta, a sociedade se encarregou de responder muito bem essa pergunta: uma profunda revolução do sistema global – e do próprio negócio – das telecomunicações; uma magnífica ampliação do acesso à informação por parte do usuário; uma redefinição do balanço entre produtores e consumidores de dados; uma multiplicação exponencial das possibilidades para o desenvolvimento profissional e empreendedor, assim como o florescimento da criatividade e da colaboração. Esta é uma pequena mostra do impacto positivo que a internet teve em nosso cotidiano, caso forneçamos uma resposta a Walton.

Claro, tudo o que é bom tem uma contrapartida: bullying cibernético, crimes digitais, aliciamento, mortes ao vivo. Comércio ilegal de dados. Fake news. Tudo isso ofusca o fenômeno digital e geram novas questões: a internet nos aproxima ou nos afasta do ideal da Sociedade da Informação? A Internet Society (ISOC) definiu o 17 de maio como o dia da Internet, para criar um marco a todas as ações globais que trabalham para concretizar o sonho de que “a rede das redes” seja um recurso mundial verdadeiramente acessível, e sirva para reduzir as brechas econômicas e digitais entre os povos.

Enquanto isso, uma nova revolução digital está sendo gestada silenciosamente, conduzida pelas novas tecnologias da Inteligência Artificial, que desafiarão em breve as noções fundamentais de nossa vida e mudarão profundamente as sociedades outra vez.

Frente às incertezas do novo século, proponho ao leitor outras perguntas finais: a tecnologia não foi sempre sobre ferramentas? Não é verdade – mesmo hoje – que uma ferramenta pode servir para o bem e ao mesmo tempo para o mal? E que não é boa ou mal em si mesma? Se as respostas a essas questões são positivas, então dependeria de nós que demos à Internet um uso para a colaboração, ou ela se transformaria em um agente alienante e desumanizador. Enquanto isso, como celebro seu dia, prefiro pensar, no que se refere à Internet, que o melhor está por vir.